quarta-feira, 24 de agosto de 2011

As CAUSAS REAIS DA INSEGURANÇA na Pós-Modernidade - Por que a "Indústria das Prisões" substituiu o Bem-Estar Social (ex.: Seguro Desemprego / Previdência), como grande despesa, nos orçamentos das Democracias Ocidentais ?

De: Claudio Estevam Prospero
Enviada em: quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Assunto: [SINAPSES] As CAUSAS REAIS DA INSEGURANÇA na Pós-Modernidade - Por que a "Indústria das Prisões" substituiu o Bem-Estar Social (ex.: Seguro Desemprego / Previdência), como grande despesa, nos orçamentos das Democracias Ocidentais ?


A SOCIEDADE DE CONSUMO, EXCLUSÃO SOCIAL E APRISIONAMENTO 
Nycia Nadine Negrão Nassif
1
 “O mundo é violento. O sistema é violento.
Hoje o que manda é o ter. 
Quem não tem não é. 
É isso que o mundo é. 
Quem tem é, quem não tem não é. 
Se você pode consumir você é.
Se não, você não é”. (Mano Brown)



O crime e a violência são, atualmente, assuntos de muito debate na sociedade, principalmente por serem explorados de maneira sensacionalista pela mídia em geral, destacando, entre outros aspectos impressionantes, aquele divulgado atual e sistematicamente, que são as rebeliões nos presídios, que costumam deixar marcas de destruição e mortes, provocando horror e indignação, tanto dentro como fora de seus muros.

Ao mostrar-se visível para a sociedade no momento em que a sua rotina institucional é abalada, através de motins, fugas e massacres de prisioneiros, a instituição carcerária desperta uma série de sentimentos e percepções que se manifestam em reações de raiva, rejeição, vingança, curiosidade e até mesmo comiseração por parte das pessoas. Afora estes momentos impactantes, a prisão - e aqueles que nela vivem - não são lembrados, considerados ou percebidos pelos demais membros da sociedade [2]

[2]  Não há como deixar de meditar sobre as perversas circunstâncias da genealogia e desenvolvimento criminosos
do preso. Seu destino: enquanto livre, temido; contido, esquecido. Nos dois extremos de sua história pessoal o
antes e o depois do crime está sempre a indiferença. Num  pólo, inspirando o delito;  no outro, inspirando a
reincidência


Nestor CANCLINI destaca o desgaste das instituições e da política (ente e ideologia), onde as condições de participação popular perderam força e esclarece que, sob  o ponto de vista simbólico, o consumo vem se insinuando como substituto dos clássicos direitos de cidadania. As classes sociais trocaram seus direitos de cidadãos, pelo direito ao consumo, vez que os mecanismos de participação sendo muito limitados, fez com que as pessoas através do chamado poder de compra almejassem a inserção na sociedade, contribuindo, assim, para a minimização de sua  exclusão. Tendo direito ao consumo de serviços e mercadorias é possível considerar-se um cidadão.

Homens e mulheres percebem que muitas das perguntas próprias dos cidadãos – a que lugar pertenço e que direitos isso me dá, como posso me informar, quem representa meus interesse – recebem suas respostas mais através do consumo privado de bens e dos meios de comunicação de massa do que nas regras abstratas da democracia ou da participação coletiva em espaços públicos.

Assim, o doutrinador leva-nos a repensar o conceito de cidadania e a questão de identidade ligada a ele: As mudanças na maneira de consumir alteraram as possibilidades e as formas de exercer a cidadania. Para ele o ato de consumir não está restringido à compra de mercadorias e nem na realização de desejos levianos. Ao contrário, implica em processos sócio-culturais maiores, onde se produz sentido e ordem à vida social e se constroem as identidades do mundo pós-moderno. Assim, este conceito precisaria ser reconstruído, ir além da aquisição de bens materiais para a concepção política de cidadania que hoje se amplia ao incluir direitos de habitação, saúde, educação e apropriação de outros bens em processos de consumo.

Quando se raciocina sobre consumo,  importa tê-lo manifesto enquanto integrado ao conjunto de crenças e desejos da sociedade, no que se refere aos aspectos do direito à cidadania. Percebe-se que a importância das práticas de consumo vem acentuando-se, especialmente através do discurso publicitário dos meios de comunicação de massa. Existe uma grande pressão para estimular o consumismo, pela televisão e demais vias mediáticas. Observa-se, dentro da cultura do consumo a TV supera os demais enquanto constituídora de realidade, ao difundir  mercadorias consideradas objetos de desejo, produzindo um padrão referencial de consumo, independente do grupo social ao qual o sujeito faz parte.

Pertinente o que sustenta Beatriz SARLO:

O mercado promete uma forma ideal de  liberdade e, na sua contra face, uma garantia de exclusão. Assim como o racismo se desnuda na entrada de algumas discotecas cujos porteiros são especialistas em diferenciações sociais, o mercado escolhe aquele que estarão em condições de, no seu interior, fazer escolhas. (...) Os meios de comunicação reforçam essa idéia de igualdade na liberdade, que é parte central das ideologias juvenis bem pensantes, as quais desprezam as desigualdades reais

A lógica do consumo altera a inserção social das pessoas: elas são o que possuem e não o que simplesmente são

A Pós-Modernidade vem se caracterizando através das relações de produção e de consumo que permeiam as interações sociais. Ocorre o aparecimento de uma nova subjetividade a partir da constituição do cotidiano pela mídia e a maneira pela qual as pessoas atuam na sociedade de consumo.

Ainda em CANCLINI, vamos tomar consciência que o maior acesso aos bens materiais e simbólicos, resultado do processo de abertura das fronteiras nacionais, não vem junto a um exercício global e pleno da cidadania,  isto porque o processo de globalização vem sendo acompanhado de um crescente desinteresse pelo espaço público e, conseqüentemente, pela participação política. Esta passa a ser submetida às regras do comércio e da publicidade, sendo transformada em algo que se consome e não mais algo que de que se participa. Essa participação ficaria então, cada vez mais restrita a uma elite tecnológica e econômica, detentora dos espaços decisórios e, por isso mesmo, apta a consumir e a produzir  produtos culturais mais sofisticados, enquanto  a massa consumidora se conforma em ser apenas “cliente”.

A sociedade de consumo tem como  seu subproduto o aumentar de distância entre aqueles que  podem daqueles que não podem  realizar os desejos provocados pelo mercado, que promete a partir da aquisição do produto propagandeado sucesso, status, felicidade, igualdade, respeito, etc.

Quanto mais elevada a “procura do consumidor” (isto é, quanto mais eficaz a sedução do mercado), mais a sociedade de consumidores é segura e próspera. Todavia, simultaneamente, mais amplo e mais profundo é o hiato entre os que desejam e os que podem satisfazer os seus desejos, ou entre os que foram seduzidos e passam a agir do modo como essa condição os leva a agir e os que foram seduzidos, mas se mostram impossibilitados de agir do modo como se espera agirem os seduzidos. A sedução do mercado é, simultaneamente, a grande igualadora e a grande divisora.  (Grifo meu).

Reporta-se BAUMAN a momentos sociais evolutivos, advertindo que a transição da sociedade industrial moderna para a sociedade de consumo refletiu numa série de mudanças. 

Dada a natureza do jogo agora disputado, as agruras e tormentos dos que dele são excluídos, outrora encarados como um malogro coletivamente causado e que precisava ser tratado com meios coletivos, só podem ser redefinidos como um crime individual. As classes perigosas são assim redefinidas como classes de criminosos. E, desse modo, as prisões agora, completa e verdadeiramente, fazem às vezes das definhantes instituições do bem-estar.

Os ‘excluídos do jogo’, conforme denomina o autor, seriam  consumidores falhos, aqueles cujos meios não estão à altura de satisfazer os desejos de consumo. São eles a própria encarnação dos demônios interiores da sociedade de consumo, sendo seu isolamento em guetos e sua incriminação uma maneira de exorcizá-los. O referido sociólogo afirma ainda que os desempregados eram o exército de reserva da  mão-de-obra”, mas que atualmente  “estar sem trabalho está transgredindo.

Este, que então deixou de ser mão-de-obra, torna-se um  exército de pobreza que precisa ser afastado e neutralizado. 


PDF em anexo  (02.07_SociedadeConsumo-RECJ.02.07-05.pdf)

O texto acima foi pesquisado após leitura do capítulo: As entranhas da Era do Consumo – do Estado de Bem-Estar Social ao Prisional – Páginas 49 a 60 – Bauman, Zygmund – o Mal-Estar da Pós-Modernidade.

Este capítulo  é o texto da Conferência Willem Bonger, na Universidade de Amsterdan – Maio de 1995 (compare-se com análises menos superficiais sobre as revoltas nas periferias da França (2009) e Inglaterra (2011))

Como não acredito em acaso / coincidência, segue a letra da música ambiente, enquanto lia esse capítulo, em uma Saraiva MegaStore:

Burguesia

Cazuza

Composição: Cazuza/ Ezequiel Neves/ George Israel

A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

--
A burguesia não tem charme nem é discreta
Com suas perucas de cabelos de boneca
A burguesia quer ser sócia do Country
A burguesia quer ir a New York fazer compras

--
Pobre de mim que vim do seio da burguesia
Sou rico mas não sou mesquinho
Eu também cheiro mal
Eu também cheiro mal

--
A burguesia tá acabando com a Barra
Afunda barcos cheios de crianças
E dormem tranqüilos
E dormem tranqüilos

--
Os guardanapos estão sempre limpos
As empregadas, uniformizadas
São caboclos querendo ser ingleses
São caboclos querendo ser ingleses

--
A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

--
A burguesia não repara na dor
Da vendedora de chicletes
A burguesia só olha pra si
A burguesia só olha pra si
A burguesia é a direita, é a guerra

--
A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

--
As pessoas vão ver que estão sendo roubadas
Vai haver uma revolução
Ao contrário da de 64
O Brasil é medroso
Vamos pegar o dinheiro roubado da burguesia
Vamos pra rua
Vamos pra rua
Vamos pra rua
Vamos pra rua
Pra rua, pra rua

--
Vamos acabar com a burguesia
Vamos dinamitar a burguesia
Vamos pôr a burguesia na cadeia
Numa fazenda de trabalhos forçados
Eu sou burguês, mas eu sou artista
Estou do lado do povo, do povo

--
A burguesia fede - fede, fede, fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

--
Porcos num chiqueiro
São mais dignos que um burguês
Mas também existe o bom burguês
Que vive do seu trabalho honestamente
Mas este quer construir um país
E não abandoná-lo com uma pasta de dólares
O bom burguês é como o operário
É o médico que cobra menos pra quem não tem
E se interessa por seu povo
Em seres humanos vivendo como bichos
Tentando te enforcar na janela do carro
No sinal, no sinal
No sinal, no sinal

--
A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

--
Atenciosamente.
Claudio Estevam Próspero 
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