quarta-feira, 30 de julho de 2014

O Colapso de Tudo - Os Eventos Extremos Que Podem Destruir a Civilizaçã​o a Qualquer Momento - Como podemos prever os eventos X e talvez até controlá-l​os (em alguns casos)? Ou deixar as sociedades mais preparadas para sua ocorrência​.


TRÊS PARTES SIMPLES
 
A frase de abertura do texto De bello Gallico, de Júlio César, proclama: “Toda a Gália é dividida em três partes.” O mesmo acontece com este livro. A Parte I aborda a relação entre complexidade e eventos extremos, aprofundando o que foi desenvolvido nessas primeiras páginas.
 
Ali, faço uma distinção entre as surpresas desagradáveis da natureza e aquelas causadas por desatenção, inação, engano, estupidez ou mera maldade humana.
 
O prato principal está na Parte II, dividida em onze pequenos blocos, cada um com a história de um possível evento X e seu impacto na vida diária caso ele se concretize. Escolhi esses exemplos de modo a abranger a maior gama de atividades humanas possível, evitando territórios já explorados à exaustão nos últimos anos pelos “eventos extremos do dia”, como o colapso financeiro global de 2007-2008 ou a crise dos reatores nucleares japoneses de 2011. Portanto, a Parte II inclui temas como um colapso no sistema de abastecimento mundial de alimentos, uma pane total da internet, uma pandemia global e até mesmo o fim da globalização. De um modo geral, essas histórias podem ser lidas em qualquer ordem, de acordo com o gosto e o interesse do leitor. Em conjunto, porém, elas retratam como a sustentabilidade do estilo de vida a que estamos acostumados é ameaçada por uma gama variada e grave de eventos X.
 
O final, na Parte III, junta as questões e problemas teóricos da Parte I com os exemplos práticos da Parte II, para lidar com a questão central de como podemos prever os eventos X e talvez até controlá-los — em alguns casos. De forma mais específica, examino até que ponto podemos intensificar o foco no tempo e no espaço em que um determinado elemento transformador começa a apresentar o verdadeiro perigo de se concretizar.
 
Analiso também os tipos de indício “fraco” que servem como aviso para um abalo iminente, além de métodos para pincelar esses indícios da avalanche de besteiras que se fazem passar por informação no dia a dia. O livro se encerra com alguns conselhos preventivos para deixar as sociedades mais preparadas para eventos extremos, incluindo a criação de sistemas sociais mais flexíveis e de infraestruturas menos frágeis.
 
Página 28 / O COLAPSO DE TUDO - final do Primeiro Capítulo
 
 
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Leia o Primeiro Capítulo – disponível em PDF em:
 
 
 


 
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Claudio Estevam Próspero 
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quinta-feira, 12 de junho de 2014

E o Brasil se mobiliza para torcer pela SELEÇÃO DA CBF ($$$) na COPA DA FIFA ($$$) !!!!


Entrevista com Andrew Jennings  
(BBC - inimigo número 1 da FIFA)

08/12/2013 por tuliorodrigues


Andrew Jennings é o jornalista investigativo que mais causa barulho no mundo investigando e denunciando a corrupção nas duas maiores entidades do esporte mundial como a FIFA e o COI. Desde 2003 foi banido das coletivas da FIFA. Andrew Jennings não teme a nada ao falar de Blatter, Havelange e Ricardo Teixeira como no caso das propinas pagas aos membros da FIFA pela ISL: “O processo terminou em 2010 com pagamentos secretos de algumas das propinas para Teixeira e Havelange. Eles tentaram manter este segredo. A BBC tomou medidas legais para forçá-los a revelar a verdade. Havelange foi forçado a sair do COI“.

No seu livro mais recente, o “Jogo sujo”, Andrew Jennings nos mostra um mundo nos bastidores do futebol mundial desconhecido por muito dos milhares de apaixonados pelo futebol. Corrupção, suborno e fraudes são denunciados desde a primeira página do livro. Perguntado se havia alguém limpo na FIFA para substituir Blatter, Andrew afirma: “Nenhum dos líderes atuais da FIFA. Que tal um torcedor? Ou convidar Romário? Ele poderia montar uma equipe de administradores honestos e ser uma figura importante”.

Confira a entrevista exclusiva com Andrew Jennings para o Blog Ser Flamengo. Falamos sobre as manifestações que houveram no Brasil durante a Copa das Confederações, CBF e sobre o próximo trabalho de Andrew Jennings.

Ler em: 


As negociatas, a corrupção e os podres da FIFA enchem as prateleiras das livrarias
por BLOG DO CURIOSO em mai 27, 2014 22:12

“Não vou torcer contra, até porque o que tinha que ser gasto, roubado, já foi.” Com essa declaração, postada hoje em sua conta no Instagram, Joana Havelange, diretora do Comitê Organizador Local (COL) da Copa 2014, filha de Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, e neta de João Havelange, ex-presidente da FIFA, acaba de justificar oficialmente a avalanche de livros que, a 15 dias da abertura do Mundial, entopem as prateleiras das livrarias com um propósito comum: revelar os podres dos bastidores do futebol.
O responsável por essa avalanche de lançamentos é Andrew Jennings, que acaba de lançar Um Jogo Cada Vez Mais Sujo, pela Editora Panda Books. O jornalista escocês investiga os bastidores da entidade há vinte anos, tendo sido um dos principais responsáveis pelas revelações que resultaram nas saídas de João Havelange e de Ricardo Teixeira do poder, denunciados por corrupção. A versão digital da nova obra de Jennings foi lançada também em outros cinco países.


Em 2011, Andrew Jennings já havia lançado no Brasil o livro Jogo Sujo, também pela Panda Books, que escancara esquemas de compra de votos e outras sujeiras praticadas pela FIFA. Tudo milimetricamente documentado. Em Um Jogo Cada Vez Mais Sujo, Jennings vai além: denuncia com detalhes o esquema fraudulento de venda de ingressos na Copa, responsável pela dificuldade dos brasileiros em conseguir comprar os ingressos. Por essas e outras, a Fifa jamais o processou. Tudo o que conseguiu fazer foi bani-lo de todos os seus eventos – ele é o único jornalista do mundo a conseguir tal feito! – e o tachou como seu “inimigo número 1”.

Na onda aberta por Jogo Sujo e Um Jogo Cada Vez Mais Sujo, vieram Jogada Ilegal, de Luís Aguilar (Editora A Esfera dos Livros); O Lado Sujo do Futebol, da Editora Planeta, escrito pelos jornalistas Amaury Ribeiro Jr., Leandro Cipoloni, Luiz Carlos Azenha (os três da TV Record) e Tony Chastinet (da TV Bandeirantes); e FIFA Máfia, ainda não publicado no Brasil, escrito pelo jornalista alemão Thomas Kistner (na foto abaixo, a edição portuguesa).


Luís Aguilar, jornalista português, passeia pelos bastidores da FIFA em Jogada Ilegal, e mostra como todos os seus setores estão impregnados pela corrupção, desde a escolha do país-sede do Mundial até a votação do prêmio Bola de Ouro. Já os brasileiros de O Lado Sujo do Futebol discorrem sobre o modelo de negócios da FIFA e da CBF, baseado em um esquema de cartas marcadas que só serve para enriquecer – de forma suja, é claro – os envolvidos. O livro foi baseado numa série de reportagens que a TV Record fez para atacar a CBF e a FIFA – numa briga que envolveu também a guerra de audiência com a Globo pelos direitos de transmissão de campeonatos de futebol.  E Thomas Kistner, seguindo também a cartilha de Jennings, mostra em FIFA Mafia o resultado dos vinte anos que passou investigando os crimes cometidos pela instituição.
Além dos títulos em livrarias, há também e-books sobre o tema. Copa Para Quem e Para Quêque pode ser requisitado à Fundação Henrich Böll via e-mail, é uma compilação de artigos reflexivos sobre o famigerado “legado da Copa”, assinados por jornalistas especializados na cobertura de eventos esportivos e por pesquisadores ativistas de causas sociais. As análises abordam os mundiais da Alemanha (2006), da África do Sul (2010) e do Brasil (2014). Já o e-book A Copa Como Ela É (Companhia das Letras) detalha as investigações do jornalista Jamil Chade, que ao longo de dez anos acompanhou os trâmites que orquestraram a preparação do Brasil para se tornar um país apto a receber uma Copa do Mundo. A editora promete uma edição em papel depois do término da Copa.

Lei da copa não tem nenhum valor. 
É lei dos cartolas da Fifa para roubar o povo. 
É um pagode de safadezas mil
Sou pela desobediência civil. A lei da copa é uma lei colonial, imposta por cartolas corruptos da Fifa, e que visa explorar ao máximo econômica e financeiramente o Brasil e o povo em geral.
Todo mundo sabe que vários clubes internacionais são propriedades das máfias, notadamente do tráfico de drogas e de moedas.
O futebol se tornou um antro de corrupção, e nada mais escravocrata que a venda de passe de jogadores, cujo dinheiro se desconhece a origem e o destino final, inclusive a nefanda prática do tráfico humano, pela exploração de adolescentes.
A Fifa já foi acusada pela prática de diferentes crimes, e impunemente.
Escreve Talita Bedinelli, in El País, Espanha:
“O pagode agora é da FIFA”. A frase circulou nas redes sociais nesta quinta-feira, alarmando os brasileiros que acreditavam ter perdido o direito sob o popular ritmo musical derivado do samba e tocado em muitos bares do país. Logo se imaginou que a tão tradicional “feijoada com pagode” estaria condenada durante as partidas da Copa do Mundo e, talvez, até o final deste ano.
A polêmica surgiu após a divulgação pela imprensa local da informação de que a FIFA havia registrado junto ao INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) brasileiro a palavra “Pagode”. Assim, estaria proibido mencionar a palavra com fins comerciais em qualquer estabelecimento ou material promocional até 31 de dezembro de 2014 sob o risco de se levar um processo judicial.
Ler em: 

TERÇA-FEIRA, AGOSTO 16, 2011
Transparência Internacional cobra Fifa sobre casos de corrupção; entidade responde

ONG diz que é primordial criação de órgão independente para investigação de casos envolvendo dirigentes da entidade; Blatter reafirma ‘compromisso’
Equipe Universidade do Futebol

Um abraço à transparência, com limitação do número de mandatos de diretores e criação de órgão independente para analisar denúncias. Essa foi a sugestão da Transparência Internacional, ONG que tem sede em Berlim e é conhecida por fazer um ranking da percepção de corrupção em cada país, à Fifa.

Em relatório apresentado nesta terça-feira, a TI disse que apesar de recentes medidas adotadas, a entidade que comanda o futebol mundial ainda passa a impressão de ser gerida “como uma rede de velhos garotos”.
Ler em: 

sábado, 26 de abril de 2014

Em sociedades onde o PRINCIPAL VALOR = DINHEIRO e a ATIVIDADE PRIORITÁRIA = COMPRAR e VENDER: a CORRUPÇÃO é "parte do jogo"




I. O capital preside a política

É preciso entender que, no Brasil e no mundo, a política é ainda e cada vez mais do capital, não do Estado. Isto porque as decisões políticas das sociedades contemporâneas têm mais ligação com o interesse do poder econômico do que com aquele dos próprios governantes. Os Estados, que têm um papel fundamental na reprodução capitalista, ainda que decidam e atuem, têm se revelado, nas últimas décadas, caudatários das decisões imediatas realizadas por grandes grupos econômicos. Assim sendo, as questões mais importantes da política acabam por ser, diretamente, aquelas que interessam ao capital. Quando as decisões são tomadas a favor do povo ou de modo contrário às burguesias, por exemplo, os grandes grupos econômicos e seus interesses têm alta força de contenção e mesmo de sabotagem em relação a tais políticas que lhe sejam opostas.

Neste ano de 2013, o maior exemplo do grande jogo entre a política e a economia, no Brasil, não se deu com as manifestações populares, mas, sim, com a relação entre o Estado brasileiro e o capital, em especial no refluxo das políticas intervencionistas dos últimos anos em favor daquelas marcadamente neoliberais. O caso notório é o da taxa oficial de juros. Após uma queda heroica nos primeiros anos do governo Dilma, a resistência e a pressão contrária do grande capital revelaram-se tamanhas, inclusive em termos de represália política e apatia econômica, que o governo retrocedeu em largos passos, majorando novamente os juros. Junto com a queda de braços em torno da taxa de juros, a depreciação insuficiente do câmbio, mantendo-o ainda elevado, e a insistência em políticas de contenção de gastos públicos para pagamento de juros da dívida são outros momentos cruciais da grande política. Nesse jogo, no qual poucas e enviesadas luzes foram lançadas pelos grandes meios de comunicação de massa e cuja complexidade escapa aos olhos da atenção quotidiana do povo, deu-se mais uma vez a derrota de políticas desenvolvimentistas em favor da retomada dos padrões neoliberais.

Como romper então, definitivamente, com tais padrões neoliberais do atraso? Em todas as sociedades capitalistas, as políticas mais progressistas só conseguem se sustentar com grande mobilização popular. Para isso, é preciso que haja cultura política ativa nas bases sociais e, ainda, mecanismos de informação e de comunicação de massa plurais e arejados. Uma das grandes impossibilidades quanto ao enfrentamento dos interesses dos grandes capitais, no Brasil, se dá justamente porque há uma dinâmica de acoplamento imediato entre as burguesias nacionais e internacionais e os meios de comunicação. Assim sendo, o povo é sempre informado de modo que a boa notícia a ele propagada é, na verdade, contra seus interesses. Enquanto não houver o enfrentamento desse padrão, não há política econômica progressista possível ou sustentável, na medida em que o povo está orientado ideologicamente contra qualquer avanço que seja progressista. Como todo enfrentamento nesse nível demanda ampla mobilização popular, aí está o impasse, justamente por não haver apoio nem alavanca para mudanças. A política progressista, aliás, não deve só contar com o povo, mas, em especial, deve partir dele.

Não há possibilidade de mudanças econômicas e sociais substanciais se não houver mobilização popular, politização das massas e exposição dos conflitos a serem superados. Ao contrário de outras experiências de esquerda da América Latina, os governos Lula e Dilma operam sem a mobilização e a politização do povo. Nesse quadro, até mesmo suas ações positivas não podem avançar. Ainda que louvada como prudência, trata-se de uma política que resulta apenas em ganhos residuais ou apoiada em margens de habilidade pessoal e sorte, pois administra conflitos como concórdia.

As massas, hoje, continuam instrumentalizadas de modo conservador pelos grandes aparelhos ideológicos da sociedade. Como isso não tem sido enfrentado, a política, mesmo quando com laivos ou desejos progressistas, acaba sendo limitada ao talhe que a economia, a cultura e a sociedade promovem como sua média: conservador e/ou reacionário.

II – Crise e política

As manifestações populares são mais um termômetro a repetir que as condições da sociabilidade capitalista são exploratórias e insuportáveis. Os indignados não estão apenas no Brasil. Todas as sociedades capitalistas são deflagradas em conflitos. Revoltas de tipos próximos às havidas no Brasil explodem já há anos na Europa e nos EUA; no mundo árabe o mesmo se deu nos últimos tempos e, na América Latina, também de modo constante em muitos países. Assim sendo, é verdade que as manifestações possam ser pensadas pelo nível local, de problemas específicos, mas, principalmente, devem ser compreendidas por meio das questões gerais, das dramáticas condições de vida sob a sociabilidade capitalista.

As atuais crises do capitalismo não têm sido enfrentadas a partir de suas causas, mas apenas por meio de mudanças superficiais ou cosméticas, quando muito. No mesmo impasse situa-se a contestação à crise. Contra o desemprego, quase sempre não se pede o fim da exploração capitalista, mas sim novos empregos. O imaginário político dos explorados está enredado nos limites do capitalismo, sem forças para superá-lo. Por isso as manifestações são cada vez mais explosivas, massivas, contundentes, mas sem horizontes profundos, sem aglutinação teórica e prática que leve à superação do capitalismo. Por onde elas começam, que é o nível da política imediata, do aumento da passagem do transporte público ou das condições urbanas, em geral é por onde também acabam. É notável e louvável que o povo e as vanguardas dos movimentos de contestação estejam nas ruas. Triste é apenas observar que tem faltado um rasgo ideológico capaz de fazer com que os indivíduos e os movimentos sociais queiram e possam haurir forças de luta estrutural contra o capital.

No nível mundial, o capitalismo está numa espécie de “refluxo do refluxo”, isto é, num movimento agora de contenção da reação que se deu no pós-crise de 2008. Os tempos de intervencionismo começam a minguar em favor de discursos novamente neoliberais. A hegemonia das ideias conservadoras, que sofreu pequeno combate ao tempo de ápice da crise, volta à tona. O reacionarismo cultural campeia. Soma-se à política econômica de guerra norte-americana o seu poder de controle das informações, no que se avista como sendo um processo sem limites.

Quanto às manifestações, que têm o condão de acelerar tempos históricos, juntaram-se às importantes pautas progressistas, ao seu final, outras tantas reacionárias. No entanto, as respostas políticas dadas pelos variados governantes nos planos federal, estaduais e municipais ao tempo das manifestações e posteriormente a elas foram múltiplas e contraditórias, entre repressão e estabelecimento de políticas públicas para um desafogo imediato dos problemas. Mas é preciso lembrar que políticas de caráter progressista são aquelas que tendem a respeitar movimentos sociais e manifestantes, dando vazão a seus apelos, enquanto um cariz conservador e reacionário os nega e os reprime. É por essa métrica que devem ser julgadas as respostas imediatas aos movimentos presentes.

Contudo, mesmo as respostas progressistas – que eventualmente anelem encaminhamentos concretos às demandas dos movimentos e das manifestações –, têm dificuldade em avançar para além do desembaraçar imediato desses problemas sociais. Operando na salvação dos próprios parâmetros de sociabilidade do capital, até as políticas do presente de perspectiva progressista acabam por sustentar a exploração existente, prolongando, ao invés de cessar, a agonia do modo de produção capitalista, agonia esta que se vê, em especial, nos pobres do mundo. Não havendo remendos progressistas que revertam a crise do capital ou que estabilizem o capitalismo, a política transformadora só pode ser, então, aquela que aponta para a superação da sociedade da mercadoria.

III. Ética e legalidade

A reprodução social capitalista investe em afirmações ideológicas de ética e legalidade como se fossem seus padrões universais ou reclames necessários ao seu bom funcionamento. Seu uso é contraditório em seus próprios termos, na medida em que padrões éticos como o do combate à corrupção ou da legalidade como valor moral são impossíveis ao capitalismo, dada a própria natureza da sociedade da mercadoria.

O assim chamado mensalão nem é o maior nem o único caso de corrupção no Brasil. A corrupção está atrelada à base da sociabilidade capitalista. Se o capital compra o trabalho e as vidas das pessoas, ele influencia sobremaneira os trâmites da política. A corrupção, assim, está perpassada por toda a sociedade. Desde os administradores das empresas privadas, passando pela população no geral em pequenas ilegalidades, até chegar ao nível eleitoral e estatal, o capital compra. Não é possível tentar criar espaços éticos parciais, incorruptíveis, em sociedades capitalistas, na medida em que o capital tem por natureza o poder de comprar. Uma ética da não-corrupção econômica só é possível em sociedades economicamente não-exploratórias. As campanhas moralistas de tipo udenista da atualidade, portanto, são cínicas – porque extremamente parciais e escandalosas apenas com os crimes que tenham sido descobertos ocasionalmente e, necessariamente, alheios – e, também, sabidamente alienantes, na medida em que encarnam em pessoas ou casos um problema que é de uma estrutura social, o capitalismo. Como não se mobiliza a sociedade para a superação do mundo do poder do capital, esse círculo de corrupção e posteriores expurgos parciais moralistas é vicioso, além de muito danoso, no final das contas, aos próprios explorados do mundo.

No que tange ao Brasil, afirma-se cada vez mais o controle ideológico da sociedade, tanto na cultura e na religião mas, em especial, nos aparelhos de comunicação de massa, que pautam de modo conservador a política e os valores. Nesse quadro, o reclame da ética é, de modo absoluto, um jogo de manipulações, sombras e luzes dos grandes maquinários da construção dos valores e referências da sociedade.

A mesma impossibilidade da ética afirmada e exigida se dá no que tange à submissão das ações econômicas e políticas a uma moralidade sustentada juridicamente. Sobre as revelações acerca da espionagem dos EUA contra o Brasil e vários países do mundo, eis mais uma prova de que o poder econômico não tem limites. Nem o direito internacional nem uma pretensa dignidade da inviolabilidade da vida privada podem a ele resistir. Não há, juridicamente ou moralmente, o que faça parar o poder do capital e de sua força militar, de tal sorte que os EUA nem pedem desculpa nem se predispõem a mudar seu comportamento. Isto porque quem pode manda. Os EUA, com seu complexo governamental industrial-militar, constituem, sustentam e alimentam a exploração capitalista sobre o mundo. Não há e é impossível que haja qualquer ética estrutural na política mundial do capital.

IV. O plano eleitoral

O ano de 2014 é mais um no qual a batalha política será jogada num campo reativo. No plano nacional, a política confinou-se a ser refém tanto das pautas dos meios de comunicação de massa conservadores quanto, em especial, de grandes estratégias de financiamento econômico privado. Quase sempre as eleições exigem posterior satisfação ou pagamento de financiadores, atrelando todo jogo político aos interesses do capital. A democracia, em sociedades capitalistas, opera como uma máquina de metrificação de opiniões já consolidadas, entregando justamente o que se espera, de modo reativo, sem maiores convencimentos ou aberturas de consciência política. Se a sociedade é preconceituosa, entrega-se então justamente o preconceito. Se o povo é desconhecedor das reais estruturas da política e da economia, opera-se exatamente nesse nível, fazendo marketing a partir dos estágios dados da ignorância. Trata-se de um nível baixo e rasteiro no qual a vida política se resume a fazer pedalar uma bicicleta já em movimento a fim de que não caia, mas sem jamais perguntar para onde se está indo ou se se pode ir com outro meio de transporte.

Tal lógica perpassa desde as grandes eleições majoritárias nacionais até as municipais. Em todo o mundo, e o Brasil e os EUA sendo casos exemplares mas não únicos, o capitalismo atrela a consulta individual para escolha de ocupantes de cargos públicos – isso a que chama de democracia e eleição – a um rígido controle ideológico e a uma lógica que faz com que só se ganhe se financiado pelos capitalistas, devendo então a posterior política ser jogada e devolvida em favor destes. As eleições são a administração da chancela, pelo povo, do domínio do capital.

TAGs: Mercado, Dinheiro, Estado, Ordem, Direito, Democracia, Liberdade, Imprensa, Religião, Homem: enfileira-se o um do capital.

* Com alterações, este artigo é, originalmente, entrevista concedida à imprensa paulista – O Regional, edição de 01°/01/2014

[*] Alysson Leandro Mascaro

Jurista e filósofo do direito brasileiro, nasceu na cidade de Catanduva (SP), em 1976. É doutor e livre-docente em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela USP, professor da tradicional Faculdade de Direito da USP e da Pós-Graduação em Direito do Mackenzie, além de fundador e professor emérito de muitas instituições de ensino superior. Publicou, dentre outros livros,Filosofia do direito e Introdução ao estudo do direito, pela editora Atlas, e Utopia e direito: Ernst Bloch e a ontologia jurídica da utopia, pela editora Quartier Latin e o mais recente Estado e forma política, pela Boitempo. É o prefaciador da edição brasileira de Em defesa das causas perdidas, de Slavoj Žižek, e da nova edição de Crítica da filosofia do direito de Hegel, de Karl Marx, ambos lançados pela Boitempo.

Ver também:
Pensamento Social Espírita: Alysson Leandro Mascaro


Lula (Mensalão) / Dilma (Petrobrás) / Alckimin (Propinoduto CPTM e METRO) / Cabral (Construtora Delta) => Não basta trocar pessoas: O SISTEMA POLÍTICO está PODRE - Loucura é fazer as mesmas coisas e esperar resultados diferentes....

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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Iniciativa Privada: SIM - Privatarias, petistas ou tucanas: NÃO (Privataria = favorecimento dos amigos da corte no poder)

Recomendo a leitura comparada dos 3 livros abaixo:


O LOBO DE WALL STREET – Jordan Belfort:

“Sem problemas”, disse, dando mais uma cheirada diretamente do frasco. “Mas te garanto que a cocaína pode ajudar a enfrentar o dia por aqui!” Balançou a cabeça e deu de ombros. “É uma profissão de merda, essa de corretor da bolsa. Quero dizer, não me entenda mal: o dinheiro é incrível e tudo o mais, mas você não está criando nada, não está construindo nada. Então, depois de um tempo torna-se meio monótono.” Fez uma pausa, como se estivesse procurando as palavras certas. “A verdade é que somos nada mais do que vendedores de putaria. Nenhum de nós tem a menor idéia de quais ações irão subir! Estamos todos apenas jogando dardos em um alvo, vendendo indiscriminadamente e queimando dinheiro. De qualquer forma, logo você irá perceber isso.”


Privatize Já – ‘privataria petista’:

João Luiz Mauad, Revista Banco de Ideias - Instituto Liberal

“A verdade, deplorável verdade, é que o gosto pelas funções públicas e o desejo de viver à custa dos impostos não são, entre nós, uma doença particular de um partido: é a grande e permanente enfermidade democrática de nossa sociedade civil e da centralização excessiva de nosso governo; esse é o mal secreto que corroeu todos os antigos poderes e corroerá igualmente todos os novos.” (Alexis de Tocqueville – Lembranças de 1848; As jornadas Revolucionárias em Paris)

(...)

Constantino reserva a última parte do livro para denunciar aquilo que ele, muito apropriadamente, chama de “privataria petista”, ou a submissão do Estado aos interesses do partido no poder. Essa “privataria” vai desde a profusão de cargos concedidos aos apadrinhados do partido em empresas estatais, passa pela chamada orgia das ONG’s, que de não governamentais só têm mesmo o nome, já que vivem basicamente do dinheiro público, normalmente destinado àquelas entidades cuja simbiose política e ideológica com o partido é latente, passa também pela concessão de volumosas verbas publicitárias para empresas de mídia“chapas-brancas”, até chegar ao loteamento das agências reguladoras, transformadas em verdadeiros balcões de negócios. Sem esquecer, é claro, do mecanismo facistóide de troca de favores com o empresariado bem comportado, que tem no BNDES seu braço mais importante.

Enfim, como muito bem resumiu Constantino, “está na hora ... de debater o tema da privatização sem deixar as paixões cegarem a razão. O estado pode ter um importante papel como regulador, mas inevitavelmente fracassa como empresário. Não se trata de má sorte, e sim da sua própria natureza. Se cada um souber o seu lugar adequado, então nós, brasileiros, só teremos a ganhar com isso”.




Trecho da apresentação do editor do livro “Príncipe da Privataria”:
No caso presente, não poderíamos deixar de dar guarida, em nossa editora, a este “O príncipe da privataria”, de Palmério Dória, o autor de “Honoráveis Bandidos”. Ele trata de questões dramáticas de nossa história: o governo dos chamados tucanos, sua política econômica neoliberal, sua proclamada relutância em priorizar ações sociais — substituídas pelas chamadas “políticas compensatórias” —, o uso de seu poder político para impedir investigações sobre denúncias de corrupção entre seus pares, a criticada venda do patrimônio público, a qualquer preço, com base em um modelo em que muitos podem ter enriquecido ilicitamente e, finalmente, a espantosa compra de votos para a reeleição de Fernando Henrique Cardoso, governadores e prefeitos em todo o país.

(Esta apresentação do editor do livro “Príncipe da Privataria” foi copiada abaixo por sintetizar como funciona a “Corte econômico-política”, independente da coligação política que esteja no poder nesta nossa ‘corrompida república’)


Príncipe da privataria e imperador do cinismo:
Se existe um político que não poderia criticar uso de dinheiro público para comprar parlamentares, esse alguém é Fernando Henrique Cardoso. O livro “Príncipe da Privataria” mostra, sem deixar dúvida (a quem tiver uma réstia de honestidade intelectual), que, na pior das hipóteses, o ex-presidente teve o domínio do fato da compra de votos de parlamentares para que aprovassem a emenda constitucional que lhe permitiu disputar a própria sucessão.

FHC não nega que votos tenham sido comprados – quem não souber disso, que se informe. Já deu várias entrevistas em que reconhece que “alguém” comprou deputados para que votassem a favor de sua reeleição. Até a CNBB denunciou isso, à época – e antes da denúncia pela Folha de São Paulo. Mas ele diz que “não sabia” de nada.

Ganha um exemplar de “O Príncipe da Privataria” quem postar aqui o link de uma coluna, de um artigo ou de um editorial de algum grande meio de comunicação em que o “não sabia” de FHC tenha sido ironizado como foi, tantas vezes, o de Lula ao negar que soubesse do mensalão.





Apresentação do editor do livro “Príncipe da Privataria”
Conheci o sociólogo Fernando Henrique Cardoso em meados dos anos 70, quando pequenos grupos de esquerda enfrentavam a ditadura militar pelas armas, sem nenhuma possibilidade de vencer, e outros — entre os quais nos incluíamos — tentávamos fazer este enfrentamento no nível das ideias e das ações desarmadas, políticas.

Já em meados dos anos 80 — quando a ditadura saíra de cena e a chamada Nova República preparava-se para entusiasmar e logo em seguida decepcionar o povo brasileiro — conheci também o ex-presidente da UNE e economista José Serra, que chegara ao país em 1977, de volta do exílio. Eu o vi pela primeira vez dançando numa festa em Brasília, um pouco antes da posse — que não houve — do presidente Tancredo Neves. A partir daí eu o veria muitas vezes mais, em campanhas cívicas, como a do parlamentarismo, e eleitorais.

A partir de 1978, quando fui trabalhar como jornalista e depois editor no jornal O Estado de S. Paulo, algumas poucas vezes eu entrevistei Fernando Henrique Cardoso em seu apartamento da rua Maranhão, no bairro de Higienópolis, em São Paulo.

Quando se elegeu presidente da República, em 1994, eu já não era jornalista, mas consultor de politicas públicas. Não foram poucas as ocasiões em que, a serviço de organizações da sociedade civil, participei — junto com o governo de FHC — do desenvolvimento de políticas de emprego e renda, o que me obrigou a privar da intimidade de ministros e altos funcionários da República. E de reuniões com o próprio presidente, nos palácios do Planalto e da Alvorada.

Naquele período, privei também da intimidade do poderoso ministro Sérgio Motta, a quem admirei, apesar de seus métodos ocasionalmente pouco convencionais. Publiquei um livro sobre a vida dele, Sérgio Motta — um trator em ação, depois de sua morte.

Fiz questão de citar minha presença pessoal ao lado dessas três grandes personalidades da história e da política de nosso país porque, como editor da Geração Editorial, devo, assim creio, explicar por que estamos publicando este livro que você tem nas mãos — depois de ter publicado, com enorme estrondo, recentemente, o “Privataria Tucana”, de Amaury Ribeiro Jr., com os negócios estranhos de familiares do senhor José Serra, e pelo qual nossa editora está respondendo a meia dúzia de processos, dos quais sem dúvida sairemos vencedores, pois a verdade é uma só.

A Geração Editorial, “uma editora de verdade”, publica — ao lado de clássicos da literatura e outros livros de interesse geral — obras sobre nossa história recente, a chamada “história imediata”. Publicamos “Mil Dias de Solidão”, de Claudio Humberto, sobre os menos de três anos do governo de Fernando Collor; “Memórias das Trevas”, de João Carlos Teixeira Gomes, que precipitou a renúncia do então poderoso senador Antônio Carlos Magalhães; “Memorial do Escândalo”, de Gerson Camarotti, sobre o chamado “mensalão”;  “Honoráveis Bandidos”, de Palmério Dória, sobre o controvertido uso do poder pela família Sarney no Maranhão e o referido “Privataria Tucana”, entre outros.

Assim como defendemos a liberdade de expressão para os jornais e revistas, a defendemos também para os livros. Estranhamente, o judiciário brasileiro tem tratado de forma desigual a imprensa e os livros. Poderosos afetados por denúncias em livros têm recorrido ao judiciário para impedir a circulação das obras e obter indenização por danos morais incomprovados, tentando inibir a liberdade de expressão.

No caso presente, não poderíamos deixar de dar guarida, em nossa editora, a este “O príncipe da privataria”, de Palmério Dória, o autor de “Honoráveis Bandidos”. Ele trata de questões dramáticas de nossa história: o governo dos chamados tucanos, sua política econômica neoliberal, sua proclamada relutância em priorizar ações sociais — substituídas pelas chamadas “políticas compensatórias” —, o uso de seu poder político para impedir investigações sobre denúncias de corrupção entre seus pares, a criticada venda do patrimônio público, a qualquer preço, com base em um modelo em que muitos podem ter enriquecido ilicitamente e, finalmente, a espantosa compra de votos para a reeleição de Fernando Henrique Cardoso, governadores e prefeitos em todo o país.

As inéditas revelações do ex-deputado Narciso Mendes para esta edição — na qual ele revela ter sido o “Senhor X” que colheu gravações de colegas confessando terem recebido R$ 200 mil cada para apoiar a reeleição — comprova que a base da corrupção e do modelo supostamente democrático que a preserva é o sistema eleitoral baseado no financiamento privado. As revelações de Narciso Mendes são bem mais graves, em dimensão e valor, que as contidas no caso do mensalão.

O que nos obriga a ir direto ao ponto, o que pode ser, como se verá, bastante doloroso.

Em meados do governo Collor, no primeiro trimestre de 1991, quando o controvertido e incômodo amigo do presidente, Paulo Cesar Farias, já se tornara conhecido no meio político e empresarial, a atriz e empresária Ruth Escobar — adida cultural do governo em San Francisco, na Califórnia — ali promoveu um seminário sobre a cultura brasileira, com apoio do Itamaraty e da empresa Hidrobrasileira, de Sérgio Motta, o principal amigo de Fernando Henrique Cardoso.

Participei deste seminário, viajando com recursos próprios da entidade privada para a qual eu prestava consultoria. A variada e numerosa “troupe”, levada graciosamente em classe executiva pela Viação Aérea São Paulo — VASP, recém-comprada por Wagner Canhedo, que depois faliu, era composta, entre outros, pelo então senador Fernando Henrique Cardoso, do PSDB e sua esposa Ruth, pelo senador Eduardo Suplicy, do PT e sua então esposa Marta, o sociólogo Bolívar Lamounier, o economista João Sayad, um dos autores do Plano Cruzado, o deputado José Fogaça, do PMDB gaúcho, o sindicalista Luiz Antônio de Medeiros, da recém fundada Força Sindical, o patrocinador Sérgio Motta e sua esposa Wilma, a agitadora cultural Lulu Librandi e algumas socialites paulistanas. A festa cultural durou uma semana, ao longo da qual Fernando Henrique, com seu inglês esplêndido, discursou no campus de Berkeley, da Universidade da Califórnia, sobre as especificidades da democracia brasileira. De público, falou o que se podia falar sem escândalo.

No entanto, numa manhã tediosa em que José Fogaça, em inglês macarrônico, falava algo ininteligível para americanos e brasileiros, Fernando Henrique levantou-se conosco e foi para o fundo da sala. Ali, de frente para mim e ao lado de Bolívar Lamounier, falou um pouco sobre o governo Collor e as primeiras denúncias de corrupção. O nome de PC Farias surgiu e, sem que ninguém o provocasse, Fernando Henrique defendeu que era urgente uma nova lei eleitoral.

De forma clara e sem censura, falou sobre o financiamento das campanhas eleitorais por empresas privadas, com recursos não contabilizados — o caixa 2 — e admitiu que nenhum partido e nenhum candidato podia naquela época prescindir desses recursos ilegais. E observava:

— Assim é, mas a diferença entre nós e “eles” é que nós gastamos o dinheiro nas campanhas, enquanto “eles” enfiam uma boa parte em seus próprios bolsos.

Nada comentou sobre o que poderia vir depois — as licitações viciadas para devolver aos financiadores o que haviam investido.

Anos depois, já presidente da República, Fernando Henrique Cardoso receberia no Palácio da Alvorada os sindicalistas que haviam apoiado sua eleição e com os quais negociava mudanças na economia que pudessem trazer, a estes sindicalistas, prestígio em suas bases. Um jogo competentemente combinado, para alegria dos dois lados — salvo quando o governo não podia ceder. Ainda assim, o presidente era gentil e paciente. Até que surgia o “trator” Sérgio Motta. Numa dessas noites, em que o presidente e seu ministro do Trabalho Paulo Paiva tomavam seu uísque no Alvorada com o presidente da Força Sindical, Luiz Antônio de Medeiros, o sindicalista histórico José Ibrahim e o ainda desconhecido Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, que Medeiros faria seu sucessor, de repente surgiu — sem que tivesse sido convidado — o ministro das Comunicações Sérgio Motta.

— Mas como é possível, Fernando, que vocês estejam aí sem minha presença? — rugiu Serjão.

— Mas é que não queríamos mesmo você aqui — respondeu o presidente jocosamente.

— Mas é bom que você tenha chegado, Serjão — interrompeu Paulinho. — Ouvi dizer que você está comprando deputados para votar a favor da reforma da Previdência, mas vou colocar mil ônibus de trabalhadores na Esplanada para pressionar o Congresso.

— Economize seu dinheiro, rapaz — respondeu Motta — porque a votação está decidida. Já almocei com todo mundo.

Paulinho levou os ônibus, mas os sindicalistas foram derrotados. Isso não os impediu, entretanto, de continuarem apoiando o governo.

Quando da campanha pela reeleição, eles apoiaram a emenda do deputado pernambucano Mendonça Filho e todos os atos de apoio a ela. Quando Fernando Henrique se recandidatou, houve um grande ato das centrais Força Sindical e CGT em Brasília. Por uma obra do espírito santo, as centrais não tiveram que desembolsar muito dinheiro pelo fretamento das centenas de ônibus que transportaram os milhares de trabalhadores, nem pelas “quentinhas” que os alimentaram.

Os sindicalistas da Força Sindical apoiaram efusivamente o programa de privatização do governo tucano. Quando tomaram o Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga das mãos da Central Única dos Trabalhadores — CUT, apoiaram a privatização da Usiminas e se deram bem. Em Volta Redonda, sede da histórica Companhia Siderúrgica Nacional — CSN, também assumiram a direção do sindicato dos metalúrgicos local e como o Clube de Investimento dos Trabalhadores tinha 10% das ações da usina privatizada, ele seria o fiel da balança que daria o controle da empresa — ou não — a um dos grandes investidores que disputavam o comando da empresa.

Paulo Pereira da Silva era então o já influente presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo quando um dia surgiu na sua porta um empresário que ele não conhecia, e que se identificou como Benjamin Steinbruch, do grupo Vicunha — um dos donos da CSN privatizada que disputaria o controle com outros investidores, entre eles o banqueiro e ministro José Eduardo de Andrade Vieira, do Bamerindus.

Steinbruch revelou a Paulinho que Vieira poderia estar “comprando” (com dinheiro) os sindicalistas que controlavam o Clube de Investimento dos Trabalhadores. Paulinho negou — de fato ele ignorava isso — e, sem nada pedir em troca, como sempre foi seu hábito, garantiu que os trabalhadores apoiassem o que considerassem a melhor proposta, que parece ter sido a de Steinbruch, pois ele ganhou o ambicionado controle. Anos depois, Paulinho candidato a prefeito de São Paulo, bateu à porta de Steinbruch e pediu apoio para sua campanha, que não era competitiva, mas pelo menos o iniciava na política.

— Não tenho negócios na prefeitura de São Paulo, por que o ajudaria? — perguntou Steinbruch, com um sorriso irônico.

— Mas eu também não vou ganhar, Benjamin. Só quero a sua ajuda oficial, dentro da lei, para fazer uma boa campanha.

— Eu já disse, Paulinho, não tenho motivos para lhe ajudar NESTA campanha. Por que eu faria isso?

— Porque eu lhe dei a CSN, não foi o bastante? — cobrou Paulinho.

— Ah! Então é isso! Naquela época eu lhe daria isso e muito mais, peão — redarguiu Steinbruch. — Mas isso é passado. Por que não pediu naquela época?

— Porque não era candidato, seu FDP! — resmungou Paulinho.

E desde então a relação dos dois azedou.

Porque é assim que funciona. Quando um empresário financia uma campanha eleitoral, ele tanto pode compartilhar o programa do partido daquele candidato — essa hipótese não está totalmente descartada — como terá em mente ter apoio do deputado ou senador para seus propósitos no Congresso ou alguma obra ou negócio no estado ou prefeitura cujos mandatários está financiando.

Mas quando Sérgio Motta, coordenador da campanha de José Serra prefeito, em 1996, precisou de recursos urgentes para pagar outdoors, não foi em alguma empresa privada que o “trator” foi buscar recursos. Acionou a direção da estatal Telefônica de São Paulo, Telesp, quando o governador era outro tucano, Mário Covas, e esta se prontificou a fazer imediatamente uma campanha publicitária de outdoors em todo o Estado de São Paulo. Mas na cidade de São Paulo a maioria dos cartazes efetivamente colocados não tinha nenhuma imagem de telefone — só a cara do candidato Serra e sua mensagem eleitoral.

Convivi, portanto, com os tucanos e seus dramas. Não são diferentes de qualquer outro drama, quando se trata de chegar ao poder e mantê-lo. Daí que, apesar de toda a minha simpatia pelo bonachão Fernando Henrique Cardoso, assim como pelo saudoso Sérgio Motta, não tenho — como editor da Geração Editorial — como recusar a publicação deste livro de Palmério Dória. Ele trata, de forma seca e dura, de uma realidade com a qual convivemos e haveremos de conviver enquanto não houver uma reforma política e eleitoral e não encontrarmos um novo sistema de governo que não essa suposta democracia representativa. O menos pior sistema inventado até agora pela humanidade, mas já com sinais de fadiga.

É no interior, nos intestinos desse sistema que se movem os partidos, com seus cabos eleitorais, vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, senadores e presidentes da República. O mais cândido dos candidatos não consegue livrar-se dos tais recursos “não contabilizados”, eufemismo para “caixa dois” imortalizada pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.

Daí que quando terminamos a leitura desse livro fascinante de Palmério Dória, em certo momento, estupidificados, seremos obrigados a nos perguntar: onde estava, no reinado dos tucanos, o ministério público, o procurador geral da República, os Joaquim Barbosa daquele tempo? O chamado “mensalão” — tenha existido ou não — parece coisa de amadores diante do profissionalismo de empresários, burocratas e políticos daquele tempo. Nenhuma CPI. Nenhuma investigação que chegasse ao fim. Nenhuma denúncia capaz de levar a um processo e a uma condenação!

Justiça seja feita: os jornais, as revistas, todos, cumpriram com seu papel de denunciar negociatas, comissões pagas a privatas, desvios, atos de pequenas e gigantescas corrupções. Ler — com os olhos de hoje — o que se denunciou no passado chega a ser, mais do que desconfortável, revoltante. A reprodução de capas de revistas e manchetes de jornais, neste livro, mostram que a imprensa naquele tempo cumpriu com o seu papel. Com destaque para o grande jornalista Fernando Rodrigues, da Folha de S. Paulo, que com a ajuda do “Senhor X” (agora revelado como Narciso Mendes) contou com gravações periciadas a história de como votos foram comprados com dinheiro e financiamentos para ajudar na reeleição.

Finalmente: este livro já estava na gráfica quando um bom amigo do PSDB, extremamente próximo ao presidente Fernando Henrique Cardoso, telefonou-me, já alertado da publicação, para fazer um apelo — não publicar — e transmitir um aviso, quase uma ameaça: já estavam constituindo advogado para enfrentar a questão.

Infelizmente, é nosso dever tornar público o que interessa aos cidadãos e refletir à luz dos olhos de hoje sobre o que, tornado público no passado, ficou sem as devidas consequências políticas e judiciais. Muito do que se mostra neste livro nem sequer é novidade: são os mesmos fatos à luz de um novo mundo, um novo Brasil.

Ou seja: como o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu para mim, naquele distante dia em São Francisco, ao fim e ao cabo não existe muita diferença entre “nós e eles” quando o assunto é financiamento de campanhas eleitorais. Por isso — devemos insistir — a necessidade de uma reforma política e do sistema eleitoral.

Quanto ao resto, é História. Pura e simplesmente História.

LUIZ FERNANDO EMEDIATO
EDITOR





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